quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Mundo Académico da Enfermagem ( Um dos artigos mais discutidos do momento do Doutor Enfermeiro)

Já imensos colegas me abordaram, preocupados, relativamente a este assunto - uma autêntica endemia. Arrisco-me a falar sobre ele, mesmo sabendo que este blog também frequentado por inúmeros não-Enfermeiros.
Nos anos mais recentes (e não só), a grande maioria dos académicos e da produção de trabalhos de investigação, versa apenas sobre uma das múltiplas dimensões com que a Enfermagem está relacionada: o âmbito psicossocial! Mas, aparentemente, tem havido constatações que este enigma viral está também a deixar a sua marca nas escolas. O plano de estudos do Curso Superior de Enfermagem está a adoecer, vítima de um enviesamento tendencioso no ensino. Não será menos do que o "Cuidar" para o exercício profissional dos Enfermeiros, a farmacologia, a patologia, a microbiologia, a bioquímica, entre outras...
Para tristeza da classe, verifica-se que a maior parte dos alunos e profissionais recém-formados (assim como alguns Enfermeiros mais "velhos", é verdade!) têm conhecimentos científicos frágeis e pouco especializados em várias vertentes do saber. Quando questionados, a resposta é unânime: "a escola só fala em cuidar, cuidar, cuidar, cuidar e dedica pouco tempo a outras coisas".

Não menosprezando (ou minorarando) a importância do "Cuidar" na Enfermagem, penso que este radicalismo psicossocial (numa tentativa não muito sensata de demarcação do modelo biomédico) não é benéfico para a profissão. Existem outras estratégias e quer se queira, quer não, o conhecimento biomédico-farmacológico é inerente/indissociável à Enfermagem (e as novas exigências assim o ditam!). Em grande parte é o que os empregadores esperam de nós! Não só, mas também!
(O próprio Infarmed dispõe de fichas de notificação de RAM para Enfermeiros, o que pressupõe que as autoridades reconheçam os Enfermeiros como profissionais altamente habilitados em farmacologia (por ex. e falando neste caso em particular), ou não fossem os profissionais de Enfermagem os responsáveis pela preparação/administração/avaliação/vigilância no âmbito farmacológico)
É que quando um Enfermeiro que tem dúvidas relativamente à localização do cúbito, não sabe o que é uma agranulocitose ou não percebe nada de farmacologia... meus amigos, desculpem-me a frontalidade mas, alguma coisa anda podre.

É constrangedor quando numa situação de urgência, um médico pede "adenosina" ou um "lanoxin ev" e o Enfermeiro não sabe o que é... ou quando pedem, permanentemente, para traduzir nomenclaturas comerciais em DCI's (ou vice-versa), começo a deixar de ter fé...
(a terminologia DCI é relativamente comum entre profissionais, enquanto que no interface Enfermeiro/utente é mais usada a comercial, logo, pressupõe que um bom profissional conheça ambas - as próprias circulares normativas/informativas do Infarmed usam, como é obvio, a nomenclatura comercial)
Hoje apanharam-me mal disposto. Quando alguém, informalmente, me perguntou: "se leucopenia era aumento ou diminuição dos leucócitos" (denota falta de conhecimento da terminologia médica).... a "casa" veio abaixo...
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P.s. - Estupendo, foi há uns anos atrás, ouvir o Enf. Luís Batalha (hoje, professor na EsenfC - Coimbra; tese de doutoramento "Dor em pediatria: a sensibilização dos profissionais de saúde como contributo na melhoria dos cuidados") dissertar acerca da "dor" - ele era conhecimento científico exímio, ele era intervenção psicossocial, ele era perspectiva holística do ser humano.... enfim, bons profissionais são de referir. Já que se fala de Coimbra, não podia deixar de referir o Enf. Jorge Paulo Leitão (hoje, Enf-Director do CHC), pelo domínio assombroso da cardiologia/emergência e do ser humano multi-dimensional...
E como estes, poderia fazer uma lista por esse Portugal fora...