quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sócrates vs. Louçã: análise


Sócrates teve o mérito da preparação do debate, e conseguiu encostar Louçã, um orador nato, contra a parede.


Ponto prévio. O debate de ontem era um dos mais aguardados. O crescimento do BE nos resultados das eleições europeias foi um dos grandes responsáveis para a derrota do PS, e esse espectro assombra os socialistas na véspera das legislativas. Por isso, era muito importante para José Sócrates atacar as políticas do BE, e sobretudo defender-se dos ataques de Louçã, que tinha neste debate a sua oportunidade de ouro para tentar cativar eleitores de esquerda insatisfeitos com o desempenho do Governo. O objectivo do BE para as legislativas é afirmar-se como 3ª força política nacional.


Porquê Sócrates como inimigo? Louçã reconhece que o PS e o PSD não são iguais, e recorda o trabalho do PS no combate para a despenalização do aborto. Mas, logo de seguida, afirma que a governabilidade foi arrasada pela maioria absoluta: lembrou a perseguição aos professores e a Mota-Engil.


Voto útil, bipolarização. Sócrates fala de realismo político: ou ganha ele ou ganha MFL, e procurou estabelecer as diferenças do PS com o BE - nomeou o BE de esquerda revolucionária. Utiliza o mesmo argumento que fez com Jerónimo: a esquerda não devia atacar o PS, porque há o risco da Direita ganhar as eleições. É nocivo o BE e Louçã ter marcado o PS como o adversário principal. Sócrates afirma que quer vencer a Direita. Louçã responde que se candidata para vencer a crise, não o PS. Louçã relembra que há transformações à esquerda. Trouxe o Código Laboral de Bagão Félix, e surpreendeu Sócrates, que ficou nervoso, e mudou de assunto, protegendo-se nos números do dia do INE.


Balanço: O debate foi muito vivo, o mais vivo até agora. Era, aliás, o que já se esperava. O que surpreendeu foi o fraco desempenho de Louçã, que costuma ser um político muito ágil nos debates. Judite de Sousa teve, naturalmente, alguma dificuldade em segurar os candidatos (reconheçamos que não era fácil), mas esteve bem.
Louçã veio cheio de números e ilustrou os seus argumentos com base em determinados casos: Mota-Engil, GALP. Na verdade, toda a sua argumentação económica baseia-se em casos escolhidos a dedo, e naquilo que interessa mais (a classe média) deixou-se surpreender pela preparação de José Sócrates. Conseguiu, no início do debate, impor algum nervosismo ao 1º Ministro, mas esteve logo de seguida muito abaixo do que se esperava. Não conseguiu esconder algum embaraço no momento mais quente do debate. É raro ver Louçã tão embaraçado numa prestação televisiva/ pública. O debate correu-lhe mal.
Sócrates preparou-se muito bem para o debate, e conseguiu detectar pontos fracos no programa do BE. Tentou colar ao BE o radicalismo e a irrealidade das suas propostas sociais e económicas. E conseguiu em determinados momentos, nomeadamente no episódio da eliminação dos benefícios fiscais para a educação e para a saúde (no programa do BE), estar acima do seu adversário. Sempre que teve espaço, atacou o PSD e a sua adversária directa.
Sócrates teve o mérito da preparação do debate, e conseguiu encostar Louçã, um orador nato, contra a parede. E mais importante ainda, conseguiu expor os traços radicais das propostas do BE. Por isso, venceu o debate

1 comentário:

Vida with(out) Purpurinas disse...

Realmente o Sócrates podia ter ganho o debate, mas duvido que ganhe as eleições... penso que os portugueses andam um pouco fartos de promessas e mais promessas do PS e nada (muito menos quanto à situação de enfermagem)...